Augustino sofre os reveses da paixão.
Foi um cego mergulho
no fundo de um poço sem fim,
pelo seu desejo de tudo;
e perdeu o bem que tinha;
e não havia o bem que intentava.
Houvera jogado com a vida,
e tudo perdera;
e se enredara irreversivelmente,
até seu fim, e talvez mais...
Não tinha por si mais amor,
e o que à vida tinha,
era àquela sua, desregrada...
E se tinha a outros,
era àqueles outros companheiros
das madrugadas, das bodegas, da sarjeta ;
e pelas prostitutas, pelos malandros,
pelos ladrões, traficantes e tais.
Tendo amor a estes tinha tudo.
Assim se lhe passava;
assim se sentia em paz.
E tinha em si que esta
era mesmo a sua vida.
E quando alto na madrugada,
passava à rua que ia dar à sua,
onde dormia num velho quarto de pensão,
a certa altura deixava-se ler uma placa
postada a meia altura de um prédio,
e sentia como a mexer consigo:
"MADAME VIDENTE ILUMINADA
RESOLVE PROBLEMAS DE VÍCIOS,
DÍVIDAS, FEITIÇOS, AMORES PERDIDOS,
ATRAPALHAÇÕES, CAMINHOS FECHADOS.
DEVOLVEMOS O SEU DINHEIRO
SE FICAR INSATISFEITO."
e então imaginava no seu álcool,
mente, espírito, corpo cansado,
que a Madame Vidente
se oferecia para resolver sua vida.
E até lhe passava o pensamento
de ir então à tal Madame.
Mas logo num arregalo de olhos,
enxotava esse pensamento com desprezo.
Via então a Madame lendo sua mão,
cartas, búzios e bola de cristal ;
e lhe dizendo que vê isso e aquilo,
e um monte de baboseira mais:
do que fazer; do que comprar
para afastar os maus espíritos,
zanzando à sua volta...
E lhe dizendo para ter esperança,
pensamento positivo e fé,
para tudo dar pé;
e que Deus vai ajudar
desde que faça por onde...
E nessa madrugada,
Augustino estava bem cheio, altíssimo.
E se pegou lendo a tal placa
como se não a houvesse antes lido.
E pensou na Madame,
e logo arregalou os olhos;
não conseguia decidir
visitar a Madame Vidente.
Pensava se era orgulho;
ou gostava no fundo da vida que levava;
ou no fundo não acreditava que Madame
pudesse resolver seus problemas profundos;
ou preferia sofrer ainda
como inocente vítima do mundo,
como se fosse ao mundo causar remorsos
pelo seu sofrimento;
e Madame Vidente era parte desse mundo...
E pensando assim,
com repulsa e determinação etílica
gritou ecoando, como um estouro de desabafo,
na madrugada da estreita ruazinha,
calçada de antigos paralelepípedos,
respondendo à placa da Madame :
- Madame Vidente !!!
-Vá roubar um demente !!!
E seguindo mais alguns passos,
depois de bem assim pensar ecoou:
- \Cambada de Espíritos sacanas !!!
-Vão plantar bananas !!!
Naquela noite, como quase sempre,
jogou-se na cama, travado, de roupa e tudo.
Mas, como quase nunca acontecia mais,
deu uma alegre gargalhada. E dormiu...
Foi um cego mergulho
no fundo de um poço sem fim,
pelo seu desejo de tudo;
e perdeu o bem que tinha;
e não havia o bem que intentava.
Houvera jogado com a vida,
e tudo perdera;
e se enredara irreversivelmente,
até seu fim, e talvez mais...
Não tinha por si mais amor,
e o que à vida tinha,
era àquela sua, desregrada...
E se tinha a outros,
era àqueles outros companheiros
das madrugadas, das bodegas, da sarjeta ;
e pelas prostitutas, pelos malandros,
pelos ladrões, traficantes e tais.
Tendo amor a estes tinha tudo.
Assim se lhe passava;
assim se sentia em paz.
E tinha em si que esta
era mesmo a sua vida.
E quando alto na madrugada,
passava à rua que ia dar à sua,
onde dormia num velho quarto de pensão,
a certa altura deixava-se ler uma placa
postada a meia altura de um prédio,
e sentia como a mexer consigo:
"MADAME VIDENTE ILUMINADA
RESOLVE PROBLEMAS DE VÍCIOS,
DÍVIDAS, FEITIÇOS, AMORES PERDIDOS,
ATRAPALHAÇÕES, CAMINHOS FECHADOS.
DEVOLVEMOS O SEU DINHEIRO
SE FICAR INSATISFEITO."
e então imaginava no seu álcool,
mente, espírito, corpo cansado,
que a Madame Vidente
se oferecia para resolver sua vida.
E até lhe passava o pensamento
de ir então à tal Madame.
Mas logo num arregalo de olhos,
enxotava esse pensamento com desprezo.
Via então a Madame lendo sua mão,
cartas, búzios e bola de cristal ;
e lhe dizendo que vê isso e aquilo,
e um monte de baboseira mais:
do que fazer; do que comprar
para afastar os maus espíritos,
zanzando à sua volta...
E lhe dizendo para ter esperança,
pensamento positivo e fé,
para tudo dar pé;
e que Deus vai ajudar
desde que faça por onde...
E nessa madrugada,
Augustino estava bem cheio, altíssimo.
E se pegou lendo a tal placa
como se não a houvesse antes lido.
E pensou na Madame,
e logo arregalou os olhos;
não conseguia decidir
visitar a Madame Vidente.
Pensava se era orgulho;
ou gostava no fundo da vida que levava;
ou no fundo não acreditava que Madame
pudesse resolver seus problemas profundos;
ou preferia sofrer ainda
como inocente vítima do mundo,
como se fosse ao mundo causar remorsos
pelo seu sofrimento;
e Madame Vidente era parte desse mundo...
E pensando assim,
com repulsa e determinação etílica
gritou ecoando, como um estouro de desabafo,
na madrugada da estreita ruazinha,
calçada de antigos paralelepípedos,
respondendo à placa da Madame :
- Madame Vidente !!!
-Vá roubar um demente !!!
E seguindo mais alguns passos,
depois de bem assim pensar ecoou:
- \Cambada de Espíritos sacanas !!!
-Vão plantar bananas !!!
Naquela noite, como quase sempre,
jogou-se na cama, travado, de roupa e tudo.
Mas, como quase nunca acontecia mais,
deu uma alegre gargalhada. E dormiu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário